Ana
nunca soube, em seus vinte e poucos anos de existência, o que era “macadâmia”.
Durante muitos desses anos ignorou mesmo
a existência de tal coisa no mundo. Depois passou a ver e até mesmo a usar
alguns cosméticos de macadâmia, o que acreditou ser uma flor. “Algo tão
cheiroso! Só pode ser flor!” Não pesquisou a respeito. Assim pensou e assim
foi. Porque Ana é assim: se não sabe de alguma coisa, trata de inventar e
satisfazer sua curiosidade e, às vezes,
até a dos outros.
Mas,
certa vez, foi se encontrar com uma velha amiga num desses cafés chiques, onde
o capuccino é caro, o bolo é caro, o
pãozinho é caro... Tudo é caro! E já que estava lá não quis economizar: - Um mocaccino duplo e um pettit gateau com sorvete de... de... um
minuto... huumm... Macadâmia! Com sorvete de macadâmia, por favor!
Decepção.
Não quanto ao sabor! A tal da macadâmia era deliciosa, mas sua amiga disse se
tratar de uma castanha. Ana não quis acreditar, mas os crocantes em sua boca a
traziam à realidade. Teimosa, como toda boa taurina, em sua imaginação
continuou associando a palavra à imagem de uma flor muito bonita.
Alguns
anos se passaram desde este episódio, até que Ana, em um fim de semana sem
maiores expectativas, descobriu com assombro e encantamento a verdade que
ninguém mais saberia.
Ela
estava só. Caminhava só, atravessando aquela noite morna de início de verão,
sentindo uma leve brisa em seu rosto. A Lua cheia – que nunca foi a sua
preferida – estava linda, mas ela quis fechar os olhos para sentir melhor
aquela noite. Uma estranha sensação. Ao fechar os olhos, Ana teve seu corpo
invadido por um aroma, diferente de tudo o que já sentira. Sentiu seus pés
saírem do chão. Tentava identificar aquele cheiro, mas não conseguia. Flor,
torta de limão, nicotina... Uma estranha combinação que lhe dava mais prazer a
cada vez que inspirava e enchia seus pulmões com aquele ar...
Por
um momento Ana imaginou estar dormindo. “Ah, não! Eu vou acordar de novo e nada
disso será verdade!”.
Mas
Ana abriu os olhos e lá estava ela:
Um tipo de orquídea.
Frágil, de beleza exuberante, sabor de limão e nicotina e odor doce e suave.
- Uma flor! Macadâmia é
uma flor!
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