Estava a olhar a janela do 18° andar quando avistou a sacola.
Flutuava lentamente no fundo azul, como se dançasse para ela uma dança delicada e envolvente.
Lembrou do filme.
Normalmente Ana acharia aquela cena bonita, mas hoje não.
Hoje viu apenas uma sacola branca na frente das nuvens que esperavam o beijo de despedida do Sol. A sacola que queria roubar a cena e depois entalar algum albatroz.
A sacola branca, que poderia ser leonina, tamanha a sua vontade de aparecer, queria entalar o albatroz e impedi-lo de avisar a Ana que iria chover naquele dia.
Apesar do lindo pôr-do-sol.
E Ana, desavisada, não levaria o guarda-chuva.
Logo hoje que ela não estava nem um pouco afim de banho de chuva.
Molhou-se.
Uma chuva fina e gelada que lhe doía até os ossos.
Desejou ter uma sacola entalada em sua garganta também, assim como o albatroz.
Para que, desavisadas, as pessoas não se protegem das suas tempestades.
E não se protegendo se permitissem o banho de chuva.
E se permitindo o banho de chuva, pudessem ver o arco-íris no final.
E se permitindo ver o arco-íris no final, torcendo suas roupas encharcadas, sorriso na cara, se abraçassem.
Se o arco-íris aparecesse.
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