domingo, 27 de outubro de 2013

Qual a cor da saudade?

A minha saudade é fúcsia
A minha saudade é Vermelha
É azul
É vermelha e azul, lado a lado!

A minha saudade é da cor do pôr do sol do Cariri
É da cor da vegetação da chapada sem chuva
Do soldadinho do Araripe
E da flor do juá.

A minha saudade é da cor parda da sua pele
É da cor dos seus lábios açaí roçando a minha nuca
Dos pelos negros entre os meus dedos
E do castanho que me reflete nos seus olhos

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Destino

Estar com alguém sem antes conhecê-la
é como gostar de azul sem conhecer o Klein
e como gostar de roxo sem conhecer o fúcsia
e
como gostar de fúcsia sem conhecer a flor.
Brincos para a realeza não poderiam mesmo ter outra coloração.

Falo de flores e você de cores.
Falo de paisagens e você de pintura.
Quer me ensinar sobre arte
mas tenho que entender de Hidráulica
                                            hidrologia
                                            fenômenos de transporte
                                            mecânica
                                            momento...

Momento,
disso sim,
nós duas entendemos!
O momento presente
O momento do encontro
O nosso momento.
O local onde a força vezes a distância resulta em movimento.
Movimento de giro,
que é o que o mundo faz de melhor.
Girar.


Escolha do Universo.

De meu, 
só o desejo 
de desvendá-lo.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Sobre encantamento

Ana nunca soube, em seus vinte e poucos anos de existência, o que era “macadâmia”. Durante muitos desses anos  ignorou mesmo a existência de tal coisa no mundo. Depois passou a ver e até mesmo a usar alguns cosméticos de macadâmia, o que acreditou ser uma flor. “Algo tão cheiroso! Só pode ser flor!” Não pesquisou a respeito. Assim pensou e assim foi. Porque Ana é assim: se não sabe de alguma coisa, trata de inventar e satisfazer sua curiosidade e, às vezes,  até a dos outros.
Mas, certa vez, foi se encontrar com uma velha amiga num desses cafés chiques, onde o capuccino é caro, o bolo é caro, o pãozinho é caro... Tudo é caro! E já que estava lá não quis economizar: - Um mocaccino duplo e um pettit gateau com sorvete de... de... um minuto... huumm... Macadâmia! Com sorvete de macadâmia, por favor!
Decepção. Não quanto ao sabor! A tal da macadâmia era deliciosa, mas sua amiga disse se tratar de uma castanha. Ana não quis acreditar, mas os crocantes em sua boca a traziam à realidade. Teimosa, como toda boa taurina, em sua imaginação continuou associando a palavra à imagem de uma flor muito bonita.
Alguns anos se passaram desde este episódio, até que Ana, em um fim de semana sem maiores expectativas, descobriu com assombro e encantamento a verdade que ninguém mais saberia.
Ela estava só. Caminhava só, atravessando aquela noite morna de início de verão, sentindo uma leve brisa em seu rosto. A Lua cheia – que nunca foi a sua preferida – estava linda, mas ela quis fechar os olhos para sentir melhor aquela noite. Uma estranha sensação. Ao fechar os olhos, Ana teve seu corpo invadido por um aroma, diferente de tudo o que já sentira. Sentiu seus pés saírem do chão. Tentava identificar aquele cheiro, mas não conseguia. Flor, torta de limão, nicotina... Uma estranha combinação que lhe dava mais prazer a cada vez que inspirava e enchia seus pulmões com aquele ar...
Por um momento Ana imaginou estar dormindo. “Ah, não! Eu vou acordar de novo e nada disso será verdade!”.
Mas Ana abriu os olhos e lá estava ela:
Um tipo de orquídea. Frágil, de beleza exuberante, sabor de limão e nicotina e odor doce e suave.

- Uma flor! Macadâmia é uma flor!