Lua cheia e pálida no céu.
A luz entrando pela janela e iluminando a cama através da cortina semiaberta
daquele quarto em que nunca havia estado antes. Cores, tecidos, pedras, formas
que eu não conheço.... Não consigo dormir. Nem tento na verdade. Mal me lembro
da noite passada. Você dorme. Profunda e delicadamente.
Te vendo dessa maneira
não consigo perceber nem os traços da menina tímida de bochechas coradas, que
sorri mordendo os lábios e olhando para baixo nem da mulher sedutora que me
conduziu até sua cama, me olhou nos olhos e me beijou. Se mostrou para mim alma
e corpo nus e adormeceu ao meu lado.
Sempre acreditei que
dormir ao lado de alguém é a expressão mais pura de confiança que pode existir.
E você dormia ao meu lado.
E ali, ao meu lado, vi o
que antes eu apenas imaginava.
Seus seios livres do
decote que me indicavam o caminho que tantas vezes percorri mentalmente. A
renda por baixo do vestido estampado, como se me chamasse a ver e me fazia
seguir por ali, imaginando por que caminhos desconhecidos eu seria conduzida.
Me levaria aquele caminho a outras pintas como a do seu braço? Quantas seriam?
Como seriam? Imaginando a temperatura do seu corpo, imaginando o formato dos
seus seios, a textura da sua pele, os pelos da sua nuca arrepiada, no coque que
desfaço mentalmente.
Agora você ali, na minha
frente. Todos os caminhos livres. Os mais longos e os atalhos. A pinta nas
costas, a pinta nas costelas, o cabelo emaranhado, nesse tom que avermelha
quando bem entende e volta a ser castanho. A colcha vermelha que cobre metade
do seu corpo me convida a estar ali embaixo. O frescor da madrugada também.
Agora já é quase dia. Detenho-me. Limito-me a lhe imaginar embaixo desse
vermelho. Penso em desenhá-la. Um desenho simples. Traços fortes. Só preto no
branco. E um intenso vermelho, que em sua intensidade não mostra aos outros o
que apenas imagino.
Seus quadris, que não
vejo, sendo desenhados por mim seguindo a linha da sua cintura. Mal me lembro da noite passada. Acaricio suas costas. Elas arrepiam. Sinto vontade de ter
meu corpo contra o seu. Sinto-me arrepiar também. De frio e desejo. Seu corpo
quente, meus mamilos rijos querendo sua pele, minha boca querendo os seus
seios, sua cicatriz. Você me mostrou suas cicatrizes. Da alma, do corpo e
dormiu ao meu lado.
E eu ali, num passeio
interminável pelo seu corpo, nessa cama tão pequena e tão grande! Minhas mãos
desejando tocar as suas pernas, suas coxas, barriga, costas... meus lábios
delicadamente acariciando seu pescoço, minha respiração entrecortada... você de
olhos fechados procura minha boca para um beijo. Não é abraço, é uma carícia
sensual e delicada. Sinto-me envolvida pelo seu cheiro, mesmo de olhos fechados
enxergo você inteira, nua e entregue.... Te olho nos olhos.... Você dormindo se
ajeita embaixo da coberta vermelha. Eu com frio sentada no pé da cama.
Vesti-me, beijei-lhe o
rosto e saí sem me despedir. Mal me lembro da noite passada.