quinta-feira, 16 de julho de 2015

Pele Papel Carvão

Lua cheia e pálida no céu. A luz entrando pela janela e iluminando a cama através da cortina semiaberta daquele quarto em que nunca havia estado antes. Cores, tecidos, pedras, formas que eu não conheço.... Não consigo dormir. Nem tento na verdade. Mal me lembro da noite passada. Você dorme. Profunda e delicadamente.
Te vendo dessa maneira não consigo perceber nem os traços da menina tímida de bochechas coradas, que sorri mordendo os lábios e olhando para baixo nem da mulher sedutora que me conduziu até sua cama, me olhou nos olhos e me beijou. Se mostrou para mim alma e corpo nus e adormeceu ao meu lado.
Sempre acreditei que dormir ao lado de alguém é a expressão mais pura de confiança que pode existir. E você dormia ao meu lado.
E ali, ao meu lado, vi o que antes eu apenas imaginava.
Seus seios livres do decote que me indicavam o caminho que tantas vezes percorri mentalmente. A renda por baixo do vestido estampado, como se me chamasse a ver e me fazia seguir por ali, imaginando por que caminhos desconhecidos eu seria conduzida. Me levaria aquele caminho a outras pintas como a do seu braço? Quantas seriam? Como seriam? Imaginando a temperatura do seu corpo, imaginando o formato dos seus seios, a textura da sua pele, os pelos da sua nuca arrepiada, no coque que desfaço mentalmente.
Agora você ali, na minha frente. Todos os caminhos livres. Os mais longos e os atalhos. A pinta nas costas, a pinta nas costelas, o cabelo emaranhado, nesse tom que avermelha quando bem entende e volta a ser castanho. A colcha vermelha que cobre metade do seu corpo me convida a estar ali embaixo. O frescor da madrugada também. Agora já é quase dia. Detenho-me. Limito-me a lhe imaginar embaixo desse vermelho. Penso em desenhá-la. Um desenho simples. Traços fortes. Só preto no branco. E um intenso vermelho, que em sua intensidade não mostra aos outros o que apenas imagino.
Seus quadris, que não vejo, sendo desenhados por mim seguindo a linha da sua cintura. Mal me lembro da noite passada. Acaricio suas costas. Elas arrepiam. Sinto vontade de ter meu corpo contra o seu. Sinto-me arrepiar também. De frio e desejo. Seu corpo quente, meus mamilos rijos querendo sua pele, minha boca querendo os seus seios, sua cicatriz. Você me mostrou suas cicatrizes. Da alma, do corpo e dormiu ao meu lado.
E eu ali, num passeio interminável pelo seu corpo, nessa cama tão pequena e tão grande! Minhas mãos desejando tocar as suas pernas, suas coxas, barriga, costas... meus lábios delicadamente acariciando seu pescoço, minha respiração entrecortada... você de olhos fechados procura minha boca para um beijo. Não é abraço, é uma carícia sensual e delicada. Sinto-me envolvida pelo seu cheiro, mesmo de olhos fechados enxergo você inteira, nua e entregue.... Te olho nos olhos.... Você dormindo se ajeita embaixo da coberta vermelha. Eu com frio sentada no pé da cama.

Vesti-me, beijei-lhe o rosto e saí sem me despedir. Mal me lembro da noite passada.