quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Unlocked

Não consigo fechar torneiras
Não consigo fechar portas
Não consigo fechar as pernas

Sua presença me abre
me escancara
me rasga
me molha

Você me invade

Onipresença nos meus pensamentos
desejos
espasmos...

E na sua presença não consigo fechar nada
Só os olhos...

e sentir você...

aqui...

dentro de mim...


aberta.

Sábado de prova

Era uma manhã como todas as outras e, por isso, os prédios estavam cinza como sempre, mas como era sábado, o céu estava azul e as árvores balançavam preguiçosamente.

Era uma manhã como todas as outras e, por isso, os aparelhos de ar condicionado pingavam formando poças de água pelo caminho, mas como era sábado, não pisei sem querer e molhei meu sapato. Como era sábado vi ali um passarinho matar a sede.

Era uma manhã como todas as outras e, por isso, muitos aviões passavam por ali em sua quase aterrissagem, mas como era sábado, um rastro de nuvem foi deixado, formando um arco branco (no fundo azul) sobre o prédio cinza.

Era uma manhã como todas as outras e, por isso, os alunos estavam apreensivos, mas, como era sábado, canarinhos da terra saltitavam na grama, lagartas coloridas dançavam sobre os galhos recém cortados e até a barata ganhou uma coloração avermelhada com o Sol e parecia ensaiar os passos de uma dança antes de entrar no bueiro mais próximo.

Era uma manhã como todas as outras e, por isso, a prova não foi nada fácil, mas como era sábado, olhei a paisagem, sorri e fui embora contente.

Era uma manhã como todas as outras e mesmo assim você não estava aqui, mas como era sábado, comi uma tapioca na feira e tomei uma cerveja sozinha brindando a nós.


Bagagem - ou Primeiro encontro

Saiu  por aí sem destino
Na mala violão, pandeiro, acordeon
no corpo,
ainda não sabia,
trazia meus antônimos
Os sinônimos na alma
No peito um picadeiro
Nos olhos carregava uma criança
(ávida pelo novo)
Não sabia onde ia
Mas ia!
E sem perceber já tinha chegado
Bem ali
Parada em frente à platéia
Com seu olhar molhado pela luz que ofuscava
Bem ali
na minha frente.

Julia

Você não sabe, mas eu carregaria a sua mochila, Julia. Carregaria até a sala de aula, carregaria no ônibus até chegar o seu ponto, com a desculpa de que estou sentada e você em pé.

Outra coisa que você não sabe, Julia, é que eu não te deixaria em pé. Cederia meu lugar a você ou pediria ao colega de viagem que cedesse o seu  para você se sentar comigo  durante todo o trajeto até a sua casa.

Mas você não sabe de nada disso, Julia. Então faça o favor: peça a esse moço que lhe devolva a sua mochila e carregue-a você mesma! Mas não a traga pesada demais até que um dia eu  possa carregá-la..