sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Sobre a decepção amorosa


Ana fez aquela pergunta de repente, como se a tivessem soprado nos seus ouvidos. Antes da resposta, um breve momento de silêncio. "Estou". Ana ouviu e chegou a esboçar um sorriso, aguardando a continuação da frase, que em sua cabeça seria: "brincadeira". A correção não veio. Não era brincadeira, era sério. "ESTOU", ecoava em seus ouvidos. "ESTOU". Ana estava confusa, decepcionada, chocada. A decoração pré-adolescente do quarto de Luíza começou a girar ao seu redor. A parede lilás se confundia com o teto. Os corações de pelúcia coloridos em cima da cama rasgaram-se ao meio, soltando a espuma branca pelo chão. Os vampiros brilhantes e os lobisomens saíram de dentro dos seus livros e se juntaram ao Justin Bieber rindo e zombando de Ana. As bonecas aproveitaram para sair do fundo do baú e cantar, girando numa roda:

 "com queem, com queem, com queem seráá que a Ana vai casaar..."

            A música dos rebeldes tocava ensurdecedoramente até que a Hermione apareceu, girou sua varinha e, apontando para Ana, gritou: "expelliarmus"! Mas Ana já estava desarmada.
            Chorou, lamentou-se, demorou a pegar no sono naquela noite. Quando dormiu, sonhou que estava correndo livre, num quintal imenso de uma casa minúscula. O quintal era todo forrado com um carpete cinza, muito limpo e fofo, que massageava os pés de Ana enquanto ela corria alegre. De repente, pessoas chegaram ao terreno, levaram muitos móveis, construíram uma casa enorme e Ana se sentiu sufocada. Sentiu falta de ar, precisava se esforçar muito para continuar respirando... Acordou aflita, estava com dor de cabeça. A primeira palavra que lhe veio à mente foi "ESTOU".

Comeu uma torta de limão. Achou azeda. Chorou. 

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