Ana fez aquela
pergunta de repente, como se a tivessem soprado nos seus ouvidos. Antes da
resposta, um breve momento de silêncio. "Estou". Ana ouviu e chegou a
esboçar um sorriso, aguardando a continuação da frase, que em sua cabeça seria:
"brincadeira". A correção não veio. Não era brincadeira, era sério.
"ESTOU", ecoava em seus ouvidos. "ESTOU". Ana estava
confusa, decepcionada, chocada. A decoração pré-adolescente do quarto de Luíza
começou a girar ao seu redor. A parede lilás se confundia com o teto. Os corações
de pelúcia coloridos em cima da cama rasgaram-se ao meio, soltando a espuma
branca pelo chão. Os vampiros brilhantes e os lobisomens saíram de dentro dos
seus livros e se juntaram ao Justin Bieber rindo e zombando de Ana. As bonecas
aproveitaram para sair do fundo do baú e cantar, girando numa roda:
"com queem, com queem, com queem seráá
que a Ana vai casaar..."
A música dos rebeldes tocava
ensurdecedoramente até que a Hermione apareceu, girou sua varinha e, apontando
para Ana, gritou: "expelliarmus"!
Mas Ana já estava desarmada.
Chorou, lamentou-se, demorou a pegar
no sono naquela noite. Quando dormiu, sonhou que estava correndo livre, num
quintal imenso de uma casa minúscula. O quintal era todo forrado com um carpete
cinza, muito limpo e fofo, que massageava os pés de Ana enquanto ela corria
alegre. De repente, pessoas chegaram ao terreno, levaram muitos móveis,
construíram uma casa enorme e Ana se sentiu sufocada. Sentiu falta de ar,
precisava se esforçar muito para continuar respirando... Acordou aflita, estava
com dor de cabeça. A primeira palavra que lhe veio à mente foi
"ESTOU".
Comeu uma torta de
limão. Achou azeda. Chorou.
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