sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Sobre sonhos


Certa vez, quando menina, Ana sonhou que estava tomando sorvete. Era tão gostoso, cremoso e refrescante! Ana sentia aquele sabor de chocolate gelado derretendo na sua boca quente num dia de verão. Acordou e quando percebeu que tudo não passara de um sonho ficou decepcionada e cheia de vontade de tomar o tal sorvete. Foi a primeira vez que isso aconteceu em sua pequena vida. A primeira de muitas, não sabia ela ainda. Pediu a sua mãe que lhe comprasse um sorvete. Mas não era nenhuma data especial e sua mãe não tinha dinheiro, tempo e talvez nem vontade de fazer aquele agrado à filha em pleno dia de semana, cheio de afazeres e obrigações. Ana ficou triste naquele dia, com o sabor do chocolate em sua boca o dia inteiro. Ruim ser criança e não mandar no meu próprio nariz – pensou.

Hoje, mulher feita, Ana gostaria de sonhar mais com sorvetes de chocolate. Ou de banana, pistache, creme de avelã... não tem mais as limitações do paladar infantil!

Tem muitos pesadelos e não gosta muito de tê-los, mas uma noite dessas chegou à conclusão de que prefere pesadelos a sonhos muito bons. Vive tendo pesadelos. Perseguições, maremotos, veículos estranhos que precisa, mas não consegue dirigir, labirintos, seres maléficos, prédios sem saída... tudo coisa já corriqueira para ela! Acorda aflita, respiração ofegante, suando às vezes e UFA! Era só um pesadelo. Que bom acordar!

Mas com sonho muito bom a coisa muda completamente de figura. Ana está apaixonada, é correspondida e vive uma linda história de amor; adotou uma criança linda e fofa que sorri um sorriso banguela para ela falando mamãe; está defendendo a tese de doutorado; descobriu a cura da AIDS e está sendo entrevistada pelo Jô; está voando num céu claro e sereno, tons rosas de um Sol ainda nascendo, a brisa morna no rosto... e pipipipi... pipipipi... pipipipi... o maldito toque escandaloso - que toda manhã promete que vai mudar-  do despertador, já acompanhado das buzinas lá fora alertando que tudo não passara de um sonho.

Que pena, era só um sonho! – Ana se lembra de quando era menina. Queria sonhar com sorvete toda noite. Com calda, castanha, cobertura quente, jujuba e tudo que a imaginação deixasse. Pelo menos sorvete ela pode comprar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário