Roxa era a flor que eu
dei a ela. Como aquela que nasce no coração dos trouxas. Poderia ter colhido no
meu próprio jardim, cultivado já há dez anos com tanto esmero. Mas não,
roubei-a de um buquê alheio. Um buquê multicolorido. Dentre todas as cores,
escolhi a roxa, dentre todas as roxas, a mais roxa.
A flor roxa foi
recebida por um sorriso tímido e um pregador também roxo e passou a fazer parte
da decoração.
Eu fui recebida por um
sorriso tímido, um abraço e um coração acelerado. Assim pensei na hora, mas a
verdade é que não conheço o ritmo daquele coração para dar conta de mudanças no
seu velocímetro.
Falei de alegria,
crianças, borboletas. Falei de problemas.
Quis colo. Recebi.
Ouvi falar de
literatura, namoradas, dores, medos. Medo de mim.
Quis dar colo. Não sei
se consegui.
Visita rápida. Na
despedida, como na primeira vez, em pé. Deixei-me beijar. Sem barreiras. Olhos
fechados, cabeça pendida para um lado, receptiva como poucas vezes sou. Os
lábios dela passeando pelo meu rosto, colo, pescoço... Ouço uma respiração alta
e entrecortada e abro os olhos. Qual não foi a minha surpresa ao perceber que
era eu que, passivamente, emitia aquele som.
Atordoada, achei melhor
ir embora. No caminho para casa sorri sozinha.
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