Eu já tinha visto Mayra sorrir antes. Mas nunca tinha sido para
mim. Em alguns anos vi Mayra algumas vezes. Passando sozinha, acompanhada de
pessoas que eu tinha pouco contato, nas fotos de algum conhecido no facebook.
Poucos encontros para quem cursa a mesma graduação num campus bem pequeno. Em
três anos vi pessoas desconhecidas pela rua, em lugares improváveis, com mais
frequência do que avistei Mayra. Por exemplo, aquele palhaço meio triste com
cara de índio que canta e toca violão que vi num vídeo uma vez no youtube e
depois peguei ônibus com ele, e o vi na rua várias vezes, em pontos diferentes
da cidade e inclusive passeando com a família sem nariz de palhaço.
Mas Mayra, cuja probabilidade de eu encontrar era imensa,
vivia sua vida longe da minha vista na maioria do tempo.
Depois passei a vê-la com mais frequência. Mayra exala
bondade. Cuida de quem lhe é querido com muito carinho e respeita todos os
demais. Ouve a todos com interesse e está sempre disposta a acolher e ajudar
quem precise.
Mayra se enfeita de pedras e flores que realçam sua beleza,
mas quando parece mais feliz mesmo é quando está suja de terra. Uma menina
terra, que não poderia ser exaltada pela música de Caetano porque seu signo é
de elemento água, o que lhe dá uma sensibilidade ainda maior. Mayra quer mudar
o mundo. E eu não duvido disso. Porque ela mesma muda e muda as pessoas com
quem convive, a cada conversa, a cada troca de experiências, a cada toque no
barro... moldando e se moldando, mudando, renovando... “muda, que quando a
gente muda o mundo muda com a gente”, alguém que não me lembro escreveu e eu
acredito nisso.
E segui observando Mayra de longe até que chegou o dia em
que Mayra sorriu para mim. Só vai entender a sensação que o sorriso de Mayra
causa quem já plantou feijão num chumaço de algodão e viu a primeira folhinha
aparecer; ou que acompanhou todos os dias uma lagarta adormecida em seu casulo
e a flagrou no exato momento em que saía de lá transformada em borboleta; ou
quem já viu gatinho nascer e respirar pela primeira vez, na hora exata em que
sua mãe corta o cordão umbilical, depois de ter lambido toda a placenta; ou
ainda quem já saiu numa manhã ensolarada depois de uma semana inteira de chuva
e viu as flores e folhas ainda molhadas sob o turquesa do céu e o Sol brilhante.
Digo isto porque o sorriso de Mayra tem a força da terra e um brilho sem
tamanho!
Não sei o que pensa Mayra, não sei o que viveu Mayra e o que
a trouxe até aqui. Também não sei das suas dores ou se em algum momento tem seu
coração aflito e o que o aflige. Não sei também se Mayra chora sozinha à noite,
protegida pela escuridão; se sofre por um amor ou se gostaria de ter uma vida
diferente.
Só sei que quando Mayra sorri pra você é como se ela pudesse
materializar todos os sentimentos bons do mundo, toda luz, toda beleza em sua
face e te envolver com alegria e amor. Quando Mayra sorri pra você é como se
você entrasse numa poesia de Manoel de Barros, como se o vento soprasse nos
seus cabelos e o Sol esquentasse sua pele. E, óbvio, você sorri de volta!
Acreditando que o mundo é um pouquinho melhor do que você imaginava e que ainda
há bondade nas pessoas.
Em breve perderei Mayra de vista de novo, mas muito contente
por tê-la conhecido. Levarei comigo um pouquinho dela, porque afinal, somos
essa mistura de pedacinhos de pessoas que passam por nossas vidas. Levamos e
deixamos um pouco de nós em cada lugar, cada encontro...
Vai Mayra, vai iluminar o mundo com seu sorriso! E não vou
nem falar para você voltar logo, porque sei que a terra vai te guiar para onde
você tiver que ir, dando firmeza para os seus pés e acariciando suas mãos até
onde seu coração quiser fazer morada.
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