segunda-feira, 29 de junho de 2015

Monotema

Sou acostumada com mar. Tenho suas formas gravadas na minha retina. Conheço suas mudanças, suas marés...
Aprendi que depois da tempestade vem a bonança, mas também que depois de alguns minutos de mar muito parado é que virá a maior onda! E às vezes até consigo me preparar para ela.
Conheço ressaca, que observava de longe na infância com misto de medo e admiração. Dias cinza de vento cortante e aquele barulho de água preenchendo tudo em volta, mostrando sua ira, sua força, sua beleza.

Depois passava. 

Calmaria.

Mas não era de mar que se tratava. Pronto! Eu, monotemática, "metade da minha alma é maresia", não consegui entender, não achei referência.

Nada de ressaca, calmaria, maresia...Nada de maré que sei quando vai baixar!

Aquela força da natureza eu pouco conhecia. Ela chegou como uma revoada de pássaros. Pássaros que nada tinham a ver com gaivotas, andorinhas ou albatrozes, que planam calmamente até na iminência das piores tempestades.

Era revoada de pássaro assustado depois de estouro, fazendo algazarra depois da trovoada, procurando abrigo.

Ela chegou como chuva em pé de serra, levantando poeira com a ventania no meio da tarde morna. 
Levantando as saias das mulheres, carregando os papéis dos estudantes, correria... 
Dia escuro em segundos, frio.. folhas secas subindo, emaranhando no cabelo... 

Fechei os olhos para me proteger e esperei passar.
Quando a ventania cessou e eu enfim tive coragem de reabrir os meus olhos  já era noite e a Lua ia alta no céu.
Quis sair dali. 
Procurei refúgio.

E mais uma vez, sozinha diante dele me senti acolhida. 
Tão calmo e sereno em sua conhecida fúria.

Diante do mar eu nunca estou sozinha.
Diante do mar eu não sinto medo.
Diante do mar eu me conheço.

Porque o mar sou eu diante do mar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário